De Viagens Psicodélicas a Dramas Policiais - Um Pequeno Tour pelo Cinema Japonês - Parte 3


Continuando minha série de posts sobre o cinema da Terra do Sol Nascente, se você não leu os anteriores aqui estão a parte 1 e a parte 2. Sem muita enrolação LET´S GO:

A Tragédia de Belladonna (1973)

Todo mundo conhece Osamu Tezuka certo? o grande Deus do Mangá trabalhou um bom tempo como diretor do Mushi Productions, estúdio responsável por lançar muitas de suas obras para a TV como Kimba O Leão Branco, Astroboy, Dororo, A Princesa e o Cavaleiro entre outros clássicos. Agora se eu ti disser que Tezuka, além dessas animações voltadas para o público infanto-juvenil, também trabalhou em uma série de animações eróticas você acreditaria? Produzidas entre o final dos anos 60 e começo dos anos 70, a Trilogia Animerama é composta pelos filmes A Thousand and One Nights, Cleopatra e Belladonna of Sadness, sendo que os dois primeiros tiveram envolvimento direto de Tezuka como co-diretor e roteirista. Já Belladonna ficou totalmente a cargo de Eiichi Yamamoto, colaborador frequente de Tezuka em outras animações da casa. Nessa bela animação acompanhamos a trágica história do casal Jean e Jeanne, que tem de enfrentar todos os tabus, crendices e misoginia da era medieval para ficarem juntos. Se formos pensar a época que essa animação foi lançada veremos muita influência da cultura hippie, desde as cores, o surrealismo, a trilha sonora, temas como a liberação sexual e o conflito entre a igreja e o modo de vida livre. Uma verdadeira viagem de LSD em forma de animação, que carrega uma crítica a misoginia e o modo como vemos a figura da mulher na sociedade.




Trilogia Daimajin (1966)

Série de 3 filmes rodados ao mesmo tempo e lançados ao longo do mesmo ano, Daimajin conta a história de um espirito que habita uma estátua de pedra e desperta para proteger o povo das mãos de algum governante maligno (estamos precisando dele aqui no Brasil). No primeiro filme acompanhamos o casal de irmãos Tadafumi e Kosaza que tiveram seu pai, o líder da aldeia onde viviam, traído e assassinado por um de seus próprios homens. Lá pelas tantas quando tudo parecia estar perdido a tal entidade que descansa na estátua desperta e causa um rastro de destruição por onde passa, acabando de vez com o crápula que maltratava o povo e salvando a todos. Em Return of Daimajin, o filho de um líder local é sequestrado por um samurai que deseja dominar a região e os aldeões tem de orar para que o Deus de pedra, que desta vez mora numa ilha, os acude. Já em Wrath of Daimajin um grupo de crianças parte numa perigosa jornada para tentar salvar seus pais que foram escravizados por um malvado samurai, e a única forma de derrotá-lo é pedindo a ajuda do Deus antigo que habita uma montanha nevada. Os três filmes tem mais ou menos o mesmo plot, só trocando os personagens e localidades, mas mesmo assim são muito bons. Possuem um climão de filme de samurai e por isso são um dos mais originais filmes de monstro gigante que eu já vi, vale uma conferida. 




Policial Violento (1989)

Takeshi Kitano... (suspiro) Um dos meus diretores japonês preferidos, o cara que começou como comediante em programas de TV e depois embarcou numa fantástica carreira de cineasta. Violent Cop é o seu primeiro trabalho para o cinema e que o fez ficar mundialmente conhecido. A história aqui é até bem simples, um policial temperamental (interpretado por Kitano) tem sua irmã raptada por traficantes e decidi quebrar todas as regras e fazer justiça. O mérito desse filme é o modo como a história é contada, violência gráfica com poucos diálogos e quase nenhuma trilha sonora, características essas que Kitano seguiria em outros de seus trabalhos. A forma seca e crua que as situações vão acontecendo nos prendem e levam ao seu ápice na conclusão dramática, daquelas estilo Taxi Driver com muito sangue, loucura e o espectador parado em frente a tela vendo os créditos subindo sem saber o que falar. Esse é um bom começo para quem quer conhecer o trabalho de Takeshi Kitano, um dos mais proeminentes diretores do cinema japonês contemporâneo.




Fogos de Artíficio (1997)

Em 1994 Takeshi Kitano se envolveu num grave acidente de moto que quase o matou. Ele mudou seu modo de vida desde então, e se tornou um pintor ativo. Esta mudança pode ser vista em seus filmes posteriores, que são caracterizados por dar maior importância à estética, como vemos em Hana-Bi. Interpreta mais um vez um policial, o personagem de Kitano é atormentado pela morte da filha e a situação de sua esposa que tem uma doença terminal. Como se isso não bastasse o seu parceiro é baleado num confronto com mafiosos. Ele deixa a polícia e parte em busca de vingança, ao mesmo tempo em que se decide a cuidar da esposa. Uma mescla de ternura, sensibilidade e violência que só Takeshi Kitano conseguiria fazer, não é atoa que ganhou o Leão de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza em 1997.




A Cura (1997)

Pessoas são encontradas mortas com um bizarro X cravado em seus corpos. Desesperado, um detetive chamado Takabe decide iniciar uma investigação à base de longos e intermináveis sessões de interrogatórios porém, sua investigação não resulta em nada. Até que um determinado dia um rapaz é preso por estar perto de mais uma pessoa assassinada. Tímido e de trejeitos estranhos, resta saber qual a ligação entre ele e os crimes (e quem sabe, com o assassino). O mais estranho e surpreendente thriller policial que eu já vi, Kyua tem uma atmosfera tensa e desconfortante que ti prende do começo ao fim. Se eu disser que entendi tudo estaria mentindo mas é o tipo de filme que depois de assistido fica na sua cabeça dias e dias.



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