De Bonecas Infláveis a Serial Killers, Um Pequeno Tour pelo Cinema Japonês - Parte 2


Dando continuidade ao post que publiquei em Julho (saudades férias) irei abordar mais algumas pérolas vindas do outro lado do planeta. Desde dramas existencialistas envolvendo brinquedos sexuais a seres humanos sem coração e um pingo de piedade, vamos passear por esse mundo muitas vezes bizarro e outras vezes sensível, que é o cinema nipônico:

Black Rain (1989)

Os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki é um triste episódio da história que inspirou diversas obras. Gen Pés Descalços com certeza é uma das mais famosas a contar o drama dos sobreviventes da bomba, inclusive já fiz um post sobre ele. Uma outra obra bem interessante que trata do assunto é Black Rain do diretor Shohei Imamura. Aqui acompanhamos o drama de Yasuko, uma jovem que vive com os tios que tentam de todo modo lhe arranjar um casamento. A pobre moça foi exposta à chuva negra que caiu sobre sua cidade logo após a explosão atômica de Hiroshima e sofre preconceito por ser uma "Hibakusha", ou traduzindo, vítima da bomba. O filme retrata os efeitos físicos e psicológicos que recaem sobre os sobreviventes do ataque nuclear, que vivem sob o medo constante de manifestar doenças decorrentes da exposição à radiação.




Boneca Inflável (2009)

Eu havia falado desse filme no Twitter um tempo atrás e alguém o apelidou de "Pornocchio" (bem criativo). A história de um brinquedo sexual ganhando vida e tentando entender os sentimentos humanos, Boneca Inflável é um dos filmes mais bonitos que vi recentemente. De forma poética e sensível, o diretor Hirokazu Koreeda nos faz refletir sobre quem realmente está vazio por dentro, os seres humanos ou a boneca de ar que descobriu ter um coração. Recomendo muito o trabalho desse cineasta, um dos poucos que consegue captar e reproduzir aspectos simples e profundos da vida cotidiana em seus filmes. A atriz que faz a boneca, Bae Doona, é bem conhecida aqui no Ocidente por participar de várias produções das irmãs Wachowski como Cloud Atlas, O Destino de Júpiter e Sense8.




Hoero Tekken (1982)

Porradaria desenfreada, perseguições ao melhor estilo Trapalhões e uma trama que mais parece ter sido tirada de uma novela mexicana, acho que isso define bem Roaring Fire. Aqui acompanhamos a história de um jovem japonês chamado Joji que junto de seu pai mora e trabalha numa fazenda nos EUA. Sua vida muda totalmente de cabeça para baixo quando, em seu leito de morte, o homem que ele sempre pensou ser seu pai lhe revela que o sequestrou ainda criança de uma família muito rica. Na tentativa de conhecer sua verdadeira família, Joji viaja até o Japão e descobre que seus pais estão mortos e que ele ainda tem uma irmã cega além de um tio que vive na mansão de sua família. Ele ainda descobre ter um irmão gêmeo e que ele está desaparecido. Agora Joji vai em busca dos motivos que levaram a morte de seus pais, que está intimamente ligada ao seu tio. Não disse que parece coisa de novela que passaria nas tardes do SBT? Mas isso não tira o mérito do filme ser super divertido, com direito a muitos momentos hilários e cenas de luta de tirar o fôlego.




A Face do Outro (1966)

Filmes sobre pessoas trocando de identidade já são muito bem conhecidos do público. O que vem a mente da maioria deve ser A Outra Face com os nossos queridos Nicolas Cage e John Travolta. Mas muito antes, lá nos idos dos anos 60 o diretor Hiroshi Teshigahara explorava de forma complexa o conceito de identidade e a busca por aceitação da sociedade. A Face do Outro é um dos grandes clássicos do chamado Nuberu Bagu, movimento inspirado no cinema francês que desconstruiu teorias e fez com que diversos cineastas consagrados emergissem com obras autorais, realistas e marginais. Na história temos um homem que perdeu o rosto em um acidente e temendo o fim de seu casamento decide procurar um ousado cirurgião que acaba de inventar um método de transplante de rosto. Considerado uma das melhores obras do cineasta, esta é uma das quatro parcerias entre Teshigahara e o escritor Kobo Abe, que aqui criticam o avanço da cultura ocidental no Japão pós-guerra e a perca de identidade de seu povo. Coincidência ou não, há um outro filme, americano e do mesmo ano, chamado O Segundo Rosto e que explora o mesmo tema.




Minha Vingança (1979)

Baseado na história real de Akira Nishiguchi, Vengeance is Mine entrou para a minha lista de melhores filmes de serial killers. Iwao Enozuki é um assassino acima de qualquer suspeita, viaja pelo país cometendo os mais diverso crimes e trocando de identidade quando lhe convém. Em forma de flashbacks o diretor Shohei Imamura (o mesmo de Black Rain) nos mostra a vida do assassino desde sua infância, sua passagem pelo exército, seu relacionamento conturbado com o pai e sua prisão. Tentamos entender o porque de tanta crueldade, mas percebemos então que ele não possui motivos, simplesmente não se importa com nada e com ninguém, apenas segue seus instintos, que é matar. Num dos momentos do filme, Iwao se passa por professor universitário e começa a se relacionar com uma moça que trabalha numa pousada. Mais tarde ela descobre seu terrível segredo e mesmo assim o aceita, preferindo ficar ao seu lado na ilusão de que ele a tirará da pobreza. O mais curioso é o modo como Iwao ganha a confiança de suas vítimas e sem quaisquer suspeita se safa da maioria dos crimes por anos.



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