Gen Pés Descalços: O Horror da Bomba Atômica


Hiroshima, 6 de agosto de 1945 - 8h15min

A Guerra estava no fim, e Hiroshima permanecia intacta. O governo incentivava todos a manter as atividade cotidianas. Nesse momento, os japoneses ouviram o alarme indicando a aproximação de um avião inimigo. Era um B-29, batizado de "Enola Gay", pilotado por Paul Warfield Tibbets Jr, do avião foi lançada a primeira bomba atômica sobre um alvo humano, batizada "Little Boy".

Instantaneamente, os prédios desapareceram junto com a vegetação, transformando Hiroshima num campo deserto. Num raio de 2 quilômetros do hipocentro da explosão tudo ficou destruído. Uma onda de calor intenso emitia raios térmicos como a radiação ultravioleta.

Em meio a esse pesadelo que começa a história de Gen Pés Descalços (Hadashi no Gen), mangá de autoria de  Keiji Nakazawa, um dos sobreviventes da bomba de Hiroshima. Keiji Nakazawa nasceu em Hiroshima em 1939, e tinha 6 anos quando a bomba atômica destruiu a cidade. Perdeu toda a família, exceto a mãe. Em 1961 mudou se para Tóquio e começou  a trabalhar como quadrinista em publicações como Shonen Gaho e Shonen King. Em 1966, após a morte de sua mãe, passou a realizar histórias autobiográficas, inspirado em suas memórias de infância e juventude. Entre esses trabalhos destaca-se Gen Pés Descalços, sua obra prima e um dos mangás mais conhecidos no Ocidente. Embora tenha ficado famoso pelos relatos de guerra pacifistas, o artista realizou histórias nos mais diversos gêneros. Impossibilitado de trabalhar devido a problemas na visão, Keiji Nakazawa se aposentou em 2009. Veio a falecer no dia 19 de Dezembro de 2012, vítima de um câncer de pulmão.

Keiji Nakazawa

Na história do mangá somos apresentados a família Nakaoka que é constituída por Gen, Shinji (irmão mais novo), Eiko (irmã mais velha), Kouji e Akira (irmãos mais velhos), Daikichi (pai) e Kimie (mãe). O mangá começa em 1945, no mês de abril. O Japão treinava compulsivamente seus jovens, para que pudessem resistir às forças americanas e inglesas guerreando. O país era tomado pela fome e por noções rígidas de comportamento, instituídas pelos militares. Com muita frequência, os habitantes passavam por “toques de recolher”, como que um treinamento para quando seus inimigos lançassem as bombas. A família Nakaoka era muito julgada pelos vizinhos e pelos militares, por se oporem a guerra e eram chamados de “antipatriotas”. A vida dessa família e de todos os habitantes de Hiroshima muda drasticamente no dia 6 de Agosto de 1945, quando os EUA resolve experimentar sua mais nova arma, a bomba  atômica.

O mangá foi primeiramente lançada em série, entre os anos de 1972 e 1973, na Shonen Jump, uma das principais revistas semanais de histórias em quadrinhos do Japão. É um relato comovente da difícil vida de uma família japonesa, vítima da bomba atômica, durante e após a Segunda Guerra Mundial. Teve um grande sucesso não somente entre os leitores jovens, mas também com pais, professores e críticos. Foi transformado em longa-metragem de animação, três filmes e até uma ópera. As edições em livro venderam mais de 5 milhões de exemplares só no Japão. Traduzido para o francês, inglês, alemão, esperanto, indonésio, norueguês, suecos e diversos outros idiomas, e lançado em mais de dez países, foi também a primeira história em quadrinhos japonesa a ser publicada nos Estados Unidos, onde foi incluída em uma lista de livros recomendados para escolas públicas.


Aqui no Brasil o mangá está sendo publicado pela Conrad, e o plano para a obra são de 10 volumes, até o momento foram lançados apenas 9, e é lançado quase que semestralmente. Lembrando que a Conrad já o havia publicado entre 1999 e 2001 em quatro edições que foram adaptadas a partir da edição "americanizada" da obra, que resumia o conteúdo original e não respeitava o padrão de leitura japonês da direita pra esquerda. A versão que está sendo publicada atualmente, é baseada na obra original japonesa e traz todo o conteúdo original, que havia sido removido das edições norte-americanas, além de respeitar o sentido da leitura original.

Além do mangá, a história ganhou filmes e especiais para TV, mas eu destaco os longas animados lançados, um de 1983 e outro de 1986, que mesmo com a animação precária da época conseguem ilustrar bem o pesadelo que Hiroshima sofreu aqueles dias. A Versátil Home Video lançou ano passado aqui no Brasil um DVD contendo as duas animações, mas procurando no YouTube achei a primeira legendada em PT BR, para quem quiser assistir:


Todo mundo deveria ler Gen Pés Descalços pelo menos uma vez na vida, uma aula de história no formato de mangá. Emociona em vários momentos, hora por profunda tristeza, hora por extrema alegria. Uma obra que eu nunca irei esquecer, mudou o meu modo de pensar, é mais do que uma história sobre guerra e paz, é também uma história de como continuar vivendo e nunca desistir de lutar pelo aquilo que nos é importante.

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