CONTO - O Teste


Todos lembram daquele dia.

Todos recordam o dia em que a terra se viu olhando acuada para um céu preenchido de naves.

Todos que sobreviveram aquele dia lembram com detalhes, onde estavam naquele fatídico 27 de
abril de 2086.

Os seres de fora não vieram em paz, passamos a chamá-los de “Visitantes”, de uma forma irônica,
pois foi assim que nos referimos a eles quando apareceram nos céus... antes de lançarem os
primeiros ataques.
Pro azar deles a humanidade nunca esteve totalmente em paz. Outra vantagem, que fez toda a
diferença na hora decisiva, foi que a humanidade contava com algo mais especial que armas de
destruição em massa inanimadas. Nesses dias a humanidade já possuía os Heróis, seres dotados de
capacidades impar, das mais variadas possíveis. Eram como Deuses entre homens. Seres dotados de
capacidades inimagináveis no mundo real, pessoas que poderiam destruir desde casas a cidades, e
todos, naquele dia estavam com medo. E não há nada mais perigoso do que um animal acuado,
principalmente se este animal conseguir soutar raios com as mãos.


[Iniciando]


Agora eu estava na cidade de Paracuru, no Brasil. Os visitantes haviam atacado varias cidades
aleatoriamente, a estrategia era obvia: gerar confusão pra dominar o inimigo mais rapidamente.
Funcionou durante algum tempo. Os primeiros a responder foram os Russos, lançando suas armar
contra a armada alienígena, neste momento os heróis ainda não haviam se organizado para ajudar na
linha de frente da batalha, nos estávamos tentando salvar vidas. E foi exatamente isso que fui fazer
em Paracuru.

Eu estava na rua principal, da minha posição conseguia ver a nave general (assim classificamos as
naves que pareciam ser as lideres das esquadras), estava acima da estação de ônibus, lançando
naves menores e atirando raios pra todos o lados. Um desses disparos acertou em cheio o colégio da
cidade. Por sorte era sábado, e não havia aula, mas havia uma reunião dos Alcoólicos Anônimos e
cerca de 15 pessoas foram possivelmente atingidas. Era o edifício mais próximo de onde eu estava,
e antes de chegar aquela posição, eu havia conseguido resgatar um senhor que ficara preso dentro
de seu carro capotado, também consegui impedir que um dos raios, lançados pela nave general,
destruísse uma casa de repouso de idosos, por sorte contei com a ajuda de um homem que estava
fugindo com sua komb, na direção oposta aonde a nave estava, ele levou os idosos consigo.
Meus poderes basicamente estão associados a luz, eu consigo capitar a luz do sol e convertê-la em
energia, tanto pra efetuar disparos, quanto pra aumentar meus atributos e habilidades físicas,
entretanto nesta época ainda era inexperiente, e não tinha consciência de toda a extensão do meu
dom, e só conseguia, ou melhor, achava que só era capaz de converter a energia do sol em força
física e habilidades acrobáticas, além de gerar escudos de luz sólida, que estavam servindo bem até
aquele momento. Foi utilizando este escudo que pude defender a rajada da nave general contra a
casa de repouso. Agora era hora de resgatar as pessoas presas no colégio.

Corri pela lateral tendo o muro do lado oeste como proteção, a nave general estava atirando a esmo
e soltando as naves abelhas, as naves de porte menor que eram do tamanho de uma moto e que
perseguiam as pessoas mais próximas ao epicentro do ataque, elas eram capturadas e levadas pra
nave general. Com um soco atravessei a parede do muro e já estava dentro da quadra esportiva do
colégio, dali poderia entrar e seguir ate a sala de reuniões dos Alcoólicos. Me situei onde era olhando um flanelógrafo que continha o aviso “REUNIÕES DO AA: SALA 34”.Corri o máximo que pude, o Sol estava perto de se por, e a noite meus poderes ficavam muito reduzidos. Achei a sala 34, mas não encontrei ninguém nela, busquei na sala 35 e percebi que esta sala e um terço do colégio, dali em diante, não existiam mais. Não conseguia raciocinar direito, o disparo que eu havia recebido na casa de repouso não era nada comparado aquele que obliterou aquela parte do colégio. Inferências e questionamentos nublaram meu raciocínio naquele momento, foi quando ouvi um choro baixo, quase um sussurro inaudível diante da cacofonia que inundava a cidade, haviam pessoas gritando, prédios, casas e veículos sendo atingidos e despedaçados, de onde eu estava dava pra ver as nave abelhas levando mais pessoas para a nave general, uma segunda horda saia toda vez que a anterior entrava com pessoas capturadas, muita gente conseguiu escapar apenas indo na direção contrária da nave, mas nem essas pessoas conseguiriam escapar por muito tempo.

Outro choramingo me tirou de meu momento de analise da situação, e levou minha atenção para a
sala 32. Corri e abri a porta da sala 32, estavam lá, 15 pessoas, acuadas, chorando, a expressão de
medo em seus rostos permeia meus mais tenebrosos pesadelos até os dias de hoje. Eram homens e
mulheres, alguns estavam agachados, outros haviam deitado de bruços e coberto a cabeça com os
braços.

- Pessoal venham comi... - Não consegui concluir a frase, antes que eu pudesse uma nave abelha
entrou pela janela estraçalhando a mesma em centenas de pedaços. Como um bicho que avalia a
melhor presa a ser abatida, a nave abelha apontou o grande glóbulo contido em sua dianteira pra
cada um dos que estavam naquela sala, inclusive a mim. Devo confessar que neste momento meu
coração parou de bater e eu congelei de medo. A avaliação de seleção da nave abelha foi rápida em
segundos ela já havia tomado a decisão de qual levar: um senhor de terno que estava mais próximo
a janela de onde ela havia entrado.
Fui tomada por um instinto mais forte que o meu medo, joguei meu corpo contra a nave abelha com
toda a força que tinha. Nós dois atravessamos não a janela pela qual minha inimiga havia invadido,
mas sim a parede que estava a vários centímetros daquela. A nave abelha rodopiou no ar, eu me
agarrei a ela como se não houvesse outra opção, a nave rodopiou horizontalmente e verticalmente,
ainda assim me segurei e aguentei o mais firme que pude. Quando percebi, outra nave abelha vinha
em nossa direção, mas eu segurava a primeira com toda minha força. As nave abelha ganharam este apelido por parecerem com abelhas só que sem a parte traseira onde ficam os ferrões nos insetos.
A outra nave abelha estava se aproximando e eu precisava fazer algo antes que ela entrasse na sala,
por algum dos buracos que agora davam acesso a ela, e capturasse algum dos civis que lá estavam.
Em um ato desesperado recolhi minhas pernas e tentei por meus pés no topo da nave abelha que
segurava, girei minhas costas colocando meu peso pra frente forçando a nave a ficar com seu topo,
que era onde eu estava, em uma posição vertical, e estiquei minhas pernas soutando a nave,
fazendo com que esta fosse impulsionada de forma abrupta em direção a outra nave que se
aproximava. As duas naves colidiram com uma força espantosa, as duas entrelaçaram-se e rodopiaram em direção ao chão, onde se tacaram com um peso enorme. Eu dei uma cambalhota pra traz, aproveitando o impulso que havia gerado com meu empurrão, e estacionei no chão fazendo pose de herói, aquela que sempre vemos nos filmes desse gênero.

Estava tão orgulhosa pela proeza que não percebi que havia uma nave abelha vindo por traz,
quando dei por conta, ela já havia se endireitado de uma forma que suas “patas” já haviam dado a
volta em meu corpo e perfurado fundo meu peito, injetando algo que me deixou dormente e me fez
cair em um sono profundo...


[FIM DA SIMULAÇÃO]


Retirei o capacete e me vi de frente com uma moça de cabelos roxos e grandes olhos castanhos. Ela
segurava uma prancheta de vidro onde anotava alguma observação sobre meu desempenho
deplorável. Me sentei e aguardei seu veredito.

- Ótima concentração e reflexos, quando enfrenta o inimigo de frente – Ela finalmente começou sua
avaliação – Mas dispersa e confusa quando submetida a problemáticas que não supunha existirem.
Senhora Eve... a senhora percebeu que ficar parada pensando na vida, pode ter custado um tempo
precioso de salvamento, e que por conta disso, não só a senhora como todos os civis naquela sala,
que permaneceram lá porque acharam que seriam salvos, foram mortos?

- Eu...
- E que apesar de sua boa atuação no inicio da avaliação a senhora simplesmente esqueceu da
missão principal a qual foi submetida neste teste? - Ela me interrompeu não deixando que proferisse
mais nada em minha defesa.

- Lembra qual a diretriz imposta a senhora? - Começou novamente - “Não entrará em confronto
direto com o inimigo e se concentrará em resgatar e afastar as pessoas até a chegada dos demais
heróis na cidade”.

Após ler sua prancheta de vidro ela voltou sua atenção para mim novamente – A senhora conhece a
historia não é? Se a conhecesse melhor, talvez, a senhora saberia que Paracuru foi completamente
varrida do mapa, pois não havia nenhum herói la no dia da invasão. Os que invadiram em Paracuru
só foram parados quando chegaram em São Gonçalo, isso porque Mundo conseguiu chegara a
tempo. Pouco depois Solar destruiu a nave mestra e salvou toda a humanidade... Em seu teste a
senhora teve a oportunidade de corrigir uma tragedia histórica, corrigir uma injustiça e ter a
satisfação de salvar varias vidas... mas falhou.

A serenidade em sua voz só fez com que me sentisse pior do que já estava.

- A senhora já pode trocar-se e sair do prédio, boa sorte no próximo ano.

Me recolhi a minha insignificância e sai da sala, e depois de me trocar e pegar minhas coisa, sai do
prédio.

A cidade fervilhava de transeuntes, alguns, não só andando pelas calçadas ou em seus automóveis,
mas voando num céu preenchido de pessoas indo e vindo, alçando voo, ou pousando. A maquina
tinha simulado bem minhas capacidade daquela época, apesar de não estar fisicamente cansada, a
fadiga mental era enorme e a decepção por ter falhado no teste, e ter que esperar mais um ano para
refazê-lo, tiraram completamente minha vontade de utilizar meus poderes e ir para casa saltando
entre os prédios, era dia, e eu conseguiria fazer aquela proeza se quisesse. Mas a dor da falha me
deixou desanimada ate pra caminhar... resolvi pegar um metro.



E ai Lamentáveis!

Aqui é o Surfista Aluminado este foi um pequeno conto de abertura.

Serviu para iniciar esta sessão de contos no Blog. Este conto é de minha autoria e convido os leitores e ouvintes do blog a deixar um (ou mais) comentário(os) sobre o que acharam dele.

Espero sinceramente que tenham curtido.

Valeu e ate a próxima.



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