Bandersnatch - Não Importa Qual Foi o Seu Final

Só para adiantar que tem SPOILER!


Bandersnatch é o novo filme/episódio/jogo/foda-se relacionado ao mundo de Black Mirror. Na trama somos apresentados á Stefan Butler, um jovem que batalha para ter seu jogo Bandersnatch lançado. O guri consegue "uma" chance de ter sua vontade lançada, porém acaba passando por diversas complicações que atrapalham não só o lançamento de seu game quanto da sua vida. Depois daí "você" que determina o progresso de tudo. Não é bem um crítica, mas sim uma visão sobre essas determinadas situações que são colocadas no longa. Acho que eu vou acabar dando uns pitacos, mas de certo tomem consciência que é uma interpretação de tudo/crítica.

Black Mirror sempre trás essa proposta de relacionar humanos com maquinas, criticar justamente como são as pessoas inseridas nesse meio, mostrando o jeito que elas destroem, se aproveitam, modificam ou abusam de toda essa tecnologia. O programa já te fazia pensar analisando uma situação cujo um determinado personagem teve que passar durante a história, mas dessa vez Black Mirror colocou você nessa imersão, através da tecnologia que te permite participar da história. É você e a maquina passando por tudo.

Eu usei algumas especificações no texto, mas das principais aspas que eu queria justificar são as aspas do "você". O filme é uma experiência de interação da ficção com telespectador, e de como suas escolhas atrapalham ou fazem o filme seguir. Daí já surgem pontos! Ao passar e ver toda essa sequência de fatos você se sente pressionado a responder o que o personagem deve fazer, coisa que o próprio personagem se incomoda. A trama do meio para o fim vira uma trip louca, e até lisérgica, do conflito de um desenvolvedor que quer concluir o jogo, mas se sente controlado por algo(você) que impende ou faz progredir a sua vida.

Eu particularmente fiquei bastante conflitante até o fim do filme sobre as minhas escolhas, mas acabei percebendo que não tem de certa forma uma escolha. As escolhas sempre levam para um final ruim, e esse final ruim se dá tanto pela proposta da serie quanto da própria mensagem do filme.


A psiquiatra ou o pai podem ser vistos como figuras controladoras, mas em determinado momento, dependendo das suas escolhas, dá para perceber que eles também são controlados por nós. Não existe um experimento cientifico ou câmeras que estão verdadeiramente atrapalhando Stefan, isso é puro artificio para nos distrair do real culpado. Em um dos diálogos existe uma discussão sobre o entretenimento, justamente nos fazendo recorrer cada vez mais a nossa função como público determinante diante de toda essa situação.

Sim, mas depois de tanta enrolação quem é o culpado?? Ninguém! Eu poderia ter acabado o texto aqui, mas realmente não existem culpados, nem você e nem ninguém. Eu falo "culpado" no contexto de consequência. Em muitos casos entra alguns artifícios que te fazem se sentir mal por ter escolhido matar o pai ou ter pulado do prédio, mas isso não faz nenhuma diferença. O próprio Colin cria uma analogia para explicar que não importar a sua escolha, tudo vai voltar e você tem que continuar tentando.

Aquele é o ambiente. A maquina só te dá duas opções e um cronômetro para escolher rápido, você está sendo "obrigado" a continuar a história baseado nessa proposta, ou seja, não importa o que aconteça não existe final feliz. Quando/se você escolhe o Stefan para matar o pai isso não te torna vilão e nem faz do Estefan um real assassino. Porque primeiro, o impulso das alternativas eram limitadas e você teve que responder. O protagonista não tinha desejo de matar o pai, até porque a mãe dele ia pegar o trem daquela hora mesmo se ele tivesse com o coelho que o pai escondeu.
Eu em momento nenhum quero invalidar esse episodio, mas fico pensando ainda sobre o real propósito dele, em um momento ele crítica o sistema que  controla e em outro deixa pistas que a figura controladora é algo além. Eu acho tudo muito deslocado dentro dessa metalinguagem que não é confusa, mas que deixa a desejar.

O longa em si é bem mal aproveitado. O filme tem personagens mal desenvolvidos, você se apegaria muito mais a história se soubesse direito o andamento de cada personagem. O diretor até tentou dar uma carga para o Stefan e pro Colin mostrando a família de cada um, mas depois o peso de tudo isso vai para o saco quando você determina qual dos dois tem que pular do prédio.

A fotografia tenta dar uma disfarçada na parte técnica e nos ângulos desnecessários, como em alguns contra plongée sem nenhum sentido de superioridade para trama diante tudo. Os diálogos que mais prestam são o do protagonista com a psicóloga, porque de resto é só ele com crise interna falando sozinho ou entrando em desespero. Só uma coisa que eu achei interessante de tudo é que tem muitas homenagens a Alice No País Das Maravilhas, o nome "Bandersnatch" vem do monstro do Alice, que  muitas vezes é ilustrado meio que um leão bizarro que bate com a ideia do monstro leão do filme. Também tem a questão dos espelhos e de como eles te fazem voltar no tempo seja pra achar um coelho ou pra revisitar uma situação. Sem contar que tem o chá que o Stefan bebê, e é tudo muito louco e isso já é outra associação. Concluindo com o titulo do post: não importa qual é o seu final, a tragédia é eminente de qualquer forma. É além de qualquer um que determine.

Realmente é tudo criticável, mas não dá pra invalidar que o episódio te faz pensar.

Para resumir tudo: A proposta é legal pena que não é tão bem aproveitada. A experiência é mais atraente do que o filme.

Se fosse para dar nota eu daria:

2,5 de 5.

Mas sim, acredite no que for. Tenha sua explicação. É você, ou não, que decide.


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