Não é novidade pra ninguém que Mark Millar é fã do Superman,
e que ele odiou o Super quebrador de pescoços de Mano do Estilo (Man of Steel,
em tradução livre).
Nesse contesto temos Huck, nova HQ do MillarWorld
(egocêntricos o moço hein) distribuída pela Image Comix, escrita pelo próprio
Millar, com a fantástica arte de Rafael Albuquerque e colorido de forma
primorosa por Dave McCaig.
Vamos começar com a arte, que em minha humilde opinião é o
ponto alto da HQ. A arte de Albuquerque nos traz perspectivas muito
interessantes, e uma movimentação bastante fluida, sem contar os detalhes das
cenas, salta aos olhos a enorme quantidade de coisas em determinadas cenas, em
outras a simplicidade “cartoonesca” se mostra pontualmente bela. Por vezes há
apenas uma única figura em toda a página, mas é feita como se fosse um sketch,
onde Albuquerque imprime um traço realmente bonito, ao mesmo tempo que
caricatural. As cores valem um adendo também, são muito bem utilizadas, e nos
passa o real sentimento idealizado pra sentirmos nas cenas, da felicidade do
personagem título retratada no dourado da cena, ao marrom dominante que
expressa sua tristeza em contraponto ao azul escuro da noite e da dor dos
outros, como na cena que Huck se compadece com alguns sem tetos e lhes oferece um
quarto onde parrarem a noite. Nas cenas ação as cores vibram, vão do cinza que
retrata a gélida noite russa ao laranja do fogo e energia quando temos um
conflito mais explosivo e nos vemos em um palco de guerra.
Sobre os argumentos, posso dizer são muito bons, Millar consegue
tornar a leitura fácil, tanto que quando chegamos ao fim dos capítulos mal dá
pra dizer que foram 30 páginas, de tão fluida que que a leitura e os diálogos. Uma
coisa bacana é como Millar usa as conversar entre personagem coadjuvantes pra
situar o leitor sobre as façanhas do personagem título.
Algo que soa irreal é o fato de Huck passar tanto tempo no
anonimato, haja vista a complicação que seria quadrar tal segredo por tanto
tempo. Uma coisa que incomoda é como Millar tem se acostumado a pensar seus
quadrinhos como storyboard, na sanha de virarem filmes depois, e isso acontece
em Huck, felizmente de forma muito pontual, o que traz a impressão de estarmos
vendo algo realmente autoral, e não uma HQ encomendada por um estúdio de
cinema, coisa que Millar parece ter feito com frequência ultimamente.
Outra coisa que incomoda são as problemáticas e saídas fáceis
de roteiro, que acabam tornando a história previsível de mais. A existências de
elementos e personagens, que são um resgate aos quadrinhos da era de ouro
recheados de robôs que poderiam facilmente serem despedaçados sem remorso, me
parece uma saída covarde de alguém que critica o trabalho de Zack Snyder ao
mesmo tempo que faz uma história onde um análogo do Super tem a face fritada
pelo próprio filho que do nada vira um psicopata matador. (Sim você acaba de
levar um spoiler de O Legado de Júpiter... acontece.)
Uma coisa bacana na HQ é que Mark Millar foge um pouco do massa
veio, apesar de ter cenas de destruições fantásticas, não temos lutas homéricas
“exprudindo” a porra toda em grandiosíssima escala, ou com a tipica “sangreira” que o
roteirista gosta de trazer, nem as cagadas ou armadilhas de roteiro que as HQ’s
do Millar geralmente tem, como por exemplo em Old Man Logan, onde temos um
Wolverine recluso que não matar, mas isso não o impede de decapitar o Caveira
Vermelha assim que o encontra, e ainda por cima usando o escudo do Capitão América
(deu até raiva só de lembrar dessa merda). Pois é, em Huck não temos isso, o
texto corre de forma bem amarrada, e os personagens se mostram bi dimensioneis,
com exceção de um ou outro, claro, mas não tomam direções contrarias de uma
hora pra outra só porque Millar estava com preguiça e diodo pra acabar logo com
aquela merda.
Por fim Hulk Huck se mostra verdadeiramente como uma
bela homenagem ao Superman, resgatando a principal ideologia do personagem: o excesso
de altruísmo. Vale a pena ler tal HQ que realmente apresenta o conceito de “Superman”
já citado, só é engraçado que tal conceito tenha sido apresentado pelo rei do
massa veio e da violência gratuita.
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