É uma pena que na transição pro português o título Race perca um pouco da força com o duplo sentido da palavra. Eu sei que Raça também pode ter mais de um sentido que poderia se aplicar à história de Jesse Owens, remetendo à garra, determinação, mas o filme não é sobre isso.
O filme é sobre velocistas e as questões raciais nas quais de se envolveram por conta das Olimpíadas de 1936.
Fui ver o filme porque gosto de cinebiografias e filmes baseados em fatos reais, e não por esperar um bom filme. Logo quando vi os cartazes e soube do filme, pensei: "lá vem historinha retratando os americanos como a cura para a doença do nazismo alemão". Baseado no que já conhecemos, tanto da História em si, quanto da história do cinema, era o pensamento mais natural.
Mas o filme não decepciona, colocando inclusive em palavras claras "não sei se lá é muito melhor do que aqui", quando Owens e seu rival alemão - contrário ao regime - conversam após uma das vitórias do americano. Aliás, não decepciona ao mostrar:
1 - bancos para negros no fundo do ônibus
2 - atletas negros impedidos de usar o vestiário
3 - atletas brancos viajando na primeira classe e atletas negros viajando na terceira
4 - a delegação americana decidindo por questões puramente políticas que os atletas judeus não iriam correr
5 - Jesse Owens e a esposa tenho que entrar no jantar em sua homenagem, depois de ganhar quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim, por baixo do bigodinho do Hitler, pela entrada de serviço
A questão racial e como ela estava ligada à propaganda nazista é o mote por trás da história de Owens: nós temos Jeremy Irons articulando para que a Alemanha atenda às exigências do comitê olímpico dos EUA, que apesar de tudo o que faz na própria casa, pretende usar seus atletas negros e judeus para provar ao mundo que se um estilo de vida deve ser incorporado pelo mundo, esse estilo é o americano. Mas nas palavras do próprio Avere Brundage, personagem de Irons, "quando foi a última vez que você jogou golfe com um negro ou um judeu?".
O filme tem outros vários momentos sensacionais como a insanidade de Goebbels pela propaganda nazista, o ato de rebeldia de Luz Long - que de fato aconteceu, que cara foda -, e a ousadia da diretora de cinema Reinfenstahl.
Absolutamente indicado.
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