Olares,
Eu, como muitos nerds lamentáveis, ocupo parte do meu tempo com coisas que não vão me deixar mais rica: ao contrário, drenam meu dinheiro. Uma delas é a minha curiosidade por mitos e lendas fora do eixo nórdico-celta-grego. Pois é, ninguém gosta de admitir que tem o gosto moldado pela cultura ocidental e a mídia, mas esta é que é a verdade; a maior das pessoas que dizem gostar de mitologias vai passar a vida inteira lambendo as bolas do Thor, sem dar uma chance para mitos além da lenda japonesa dos 27 Ronins ou da versão light da história da Sherazad.
Pensando nisso, na minha coleção de livros de mitologias variadas e porque finalmente comecei a ler o segundo livro da série O Livro das Mil e Noites, resolvi fazer uns posts contando resumidamente algumas histórias do livro.

Vamos começar falando sobre o livro em si. Sim, é um livro, um compilado que levou alguns séculos para ficar pronto. Como a Bíblia, como o Mahabarata, como aconteceu com poucos relatos de lendas e mitos populares. Os japoneses têm vários, que vão desde compilações de histórias populares sem sentido, até a história do nascimento dos deuses - antepassados da família imperial. Mas estes compêndios eram originalmente organizados sob ordens de um governante (para provar que descende dos deuses, por exemplo).
No caso do Livro das Mil e Noites, os intelectuais apenas concluíam que era necessário, o que acabava sendo um problema, porque cada região de língua árabe no mundo, em algum momento dos séculos iniciais da era atual, tinha sua versão das histórias - que já são confusas por elas mesmas. Felizmente um belo dia, algum dos muitos Mohamed achou que já tava de bom tamanho aquela palhaçada e resolveu reunir uma galera e fazer um compilado só, usando dialetos locais o mínimo possível, preenchendo lacunas onde os contos estavam incompletos e muito provavelmente juntando às histórias originais, outras famosas à época, para concluir mil e uma noites de clemência do rei, já que parte do compilado é formado por lendas muito curtas - e malucas. Quando a Biblioteca Azul lançou o box com quatro livros, finalmente a língua portuguesa ganhou uma versão traduzida diretamente do árabe, e com notas de rodapé para explicar traduções, versões diferentes que já estiveram no compêndio, etc, etc (é sério, são muitos etc, só de prefácio o primeiro livro tem umas trinta páginas).
Como este post já ficou gigante, vou só introduzir a história e volto outro dia com algumas das lendas.
É de conhecimento comum que Sherazad (Shahrazad, como vou chamar a partir de agora), passava as noites contando histórias cheias de mistério para um homem que matava todas as esposas depois da noite de núpcias. Mas por que o sujeito matava todas as mulheres depois da primeira noite de casamento e por que se casar pra depois matar? Chifres. O cara, Sahriyar, vivia bem e feliz até o dia em que recebeu o irmão em seu palácio para uma temporada.
É isso, outro dia (provavelmente daqui uma semana) eu volto com o restante da história do rei Shariyar.
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