Todo entusiasta de quadrinhos dedicado a ter uma coleção respeitável (entenda: entulhando algum cômodo da residência) regularmente se encontra na ingrata tarefa de reorganizar as HQs, para não ficar aquele furdúncio e você voltar a ter uma vaga ideia de onde cada coisa se encontra.
E, não raras vezes, no meio dessa organização você acaba se deparando com coisas que você não lembra muito bem como, quando e por que pararam ali. Geralmente são compras de impulso, presente de terceiros, megassagas que pareciam que iam valorizar muito no futuro... enfim.
Nessa nova coluna, vou tentar fazer um apanhado dos itens mais curiosos, inusitados e bizarros (muito bizarros) da minha morfética coleção.
Vamos começar pelo BAT-MANGÁ - VOLUME 1!
Publicado no Japão na década de 1960 durante o auge da Batmania e com a anuência da DC Comics, o Bat-Mangá foi escrito e roteirizado por Jiro Kuwata e foi encerrado após cinquenta e três edições, sem ganhar nenhum tipo de reimpressão ou encadernação. Isso contribuiu para que sua existência fosse gradualmente esquecida, ao ponto de virar uma lenda urbana.
Porém, no início da década de 1990, o David Mazzuchelli (desenhista e co-criador de Batman: Ano Um) foi um dos convidados estrangeiros de uma convenção de quadrinhos na terra dos Pokemon, e lá ficou sabendo pela boca miúda da existência do Bat-Mangá. Ele rapidamente contactou seu amigo e famoso designer Chipp Kid, contou-lhe as boas novas e Kid foi rapidamente até os confins do mercado negro em busca dessa preciosidade.
Até que, em 2008, com todo o material coletado, Kid conseguiu a bênção de Paul Levitz (editor-chefe da DC na época) e lançou o Bat-Mangá em inglês para que todo o planeta pudesse apreciar a obra e legado de Jiro Kuwata à frente do morcego mais sexualmente dúbio da ficção.
A capa parecia mesmo algo vindo do mercado negro
Cheguei a topar com essa raridade numa livraria aqui de Brasília, mas na época eu era imbecil e deixei essa oportunidade passar. Felizmente alguns anos depois a DC resolveu relançar as histórias num formato menor, com mais histórias e restaurado digitalmente.
E foi esse que comprei!
Alegria!
Não tardou para eu ler o calhamaço em minhas mãos e me deparar com as histórias mais insanas do Batman que já li em todos esses anos de cuequinha verde e fã do Morrison. Duvida? Vou fazer então um apanhado rápido das histórias contidas nesse primeiro volume. Vamulá!
1- LORDE DEATH MAN
Parados aí, seus feladaputa. Estou armado e com uma ótima reserva de cálcio!
A primeira história já começa do jeito certo: Bruce Wayne e Dick Grayson, num auditório repleto de ricaços assistindo a uma exibição de um rubi de valor inestimável, são surpreendidos por uma caralhada de esqueletos de trabuco e assistem impotentes ao roubo da joia. Ao acender das luzes, descobrem que os homens-esqueleto eram na verdade cartazes em tamanho real do único bandido no recinto: um maluco vestido de caveira que acredita ser imortal.
Ao longo da história vemos Lorde Death Man morrer súbita e repetidamente quando é pego pela dupla dinâmica ou simplesmente quando lhe convém, a ponto do Batman se convencer mesmo de que ele era um demônio e ter pesadelos com ele.
Mas no fim das contas ele era apenas um cara que dominava uma técnica de meditação que reduzia muito seus sinais vitais e ele acabou eventualmente tendo uma morte horrível após colidir seu helicóptero nas linhas de uma torre de energia graças ao Robin...
...ou era o que a gente pensava até o GRANT MORRISON reviver o personagem para usá-lo em Corporação Batman e estabelecer que ele é imortal mesmo!
Careca desgraçado, mal posso ver seus movimentos!
2- DOUTOR SEM FACE
Essa história é impagável: um cientista chamado Denton resolve testar um raio de regeneração de pele diante de um público e, no meio do teste, o raio acaba indo direto na cara dele e derretendo o seu rosto.
O cara então fica completamente biruta e resolve sair numa vendetta pela cidade e SE VINGAR DE TODOS OS ROSTOS QUE VIR PELA FRENTE.
...
Sim, isso mesmo.
Tudo e todos que tiverem um rosto distinguível são vítimas de sua fúria. Ele atira em rostos de outdoor, de transeuntes, de obras de arte, de objetos reflexivos que possam refletir rostos, o cara tá mais loko que o Saci andando de patinete, e apenas Batman e Robin podem detê-lo.
Por sua obsessão em destruir rostos, o Doutor Sem Face acaba indo direto na enorme escultura do rosto do Batman talhada numa formação rochosa perto da cidade (o Bat-monumento hahahaha) e lá é finalmente capturado.
Porém, ele não era quem dizia ser. Na verdade, o bandido era um cara chamado Morgan que teve o rosto realmente destruído anteriormente pelo doutor Denton. Ele então resolveu sequestrar o cientista, usar uma máscara para se passar por ele, simular um acidente e roubar obras de arte e joias enquanto se fingia de maluco e destruía réplicas delas na frente de todo mundo!
Santo plot twist, Batman!
Desnecessário dizer que o plano foi descoberto a tempo e ele e seus capangas não se safaram dessa. O doutor Denton verdadeiro passa bem.
3- O BOLA HUMANA
Não estamos falando daquele seu tio responsável por cuidar do churrasco de domingo
A próxima história me deixou levemente perturbado, mas já explico o porquê. Primeiro, vamos à sinopse:
Um manolo desenvolveu uma liga metálica de altíssima elasticidade e resolve monetizar sua invenção. Vendendo a patente? Aplicando em engenharia? Nãaaaaao.
Ele resolveu sair quicando por aí e cometendo crimes, tipo furtos. Um rapaz brilhante, sem dúvidas.
Batman e Robin vão rapidamente de encontro ao Bola Humana e são impiedosamente surrados. O vilão, inclusive, chega a marcar uma revanche no museu da cidade, três dias depois. Batman dá uma de Batman e chega preparado, mas não o suficiente pra evitar levar um tiro nas costas de uma bala feita da mesma liga metálica do traje do Bola Humana e quase morrer.
...
Agora explico o meu espanto.
Na mesma época, do outro lado do planeta, Gardner Fox escreveu a história da Detective Comics #347, chamada "A Estranha Morte do Batman". Nela, o cruzado embuçado enfrenta um novo vilão chamado "O Quicador", que usa um traje de liga altamente elástica para quicar por aí.
Notou alguma semelhança? Pois piora:
Na história, Fox decide criar um final alternativo onde Batman é morto pelo novo vilão e Robin parte sozinho para vingar seu parceiro de combate ao crime. Já no Bat-Mangá, Batman quase morre e Robin resolve partir pra cima do Bola Humana sozinho.
Olha, eu não sei o que pensar sobre isso. Mas que é estranho, é.
Muito estranho...
4- A VINGANÇA DO PROFESSOR GORILA
Essa história lembra muito "Animal", aquele filme excelente e hilário do Rob Schneider. Um cientista franzino chamado Walter resolve desenvolver um aparelho que transfere habilidades de outros animais para seu corpo em forma de raios. Numa dessas, ele foi pegar a força de um gorila chamado Karmak e rolou um pequeno imprevisto: o aparelho deu pane e o gorila acabou ficando super inteligente e capaz de controlar mentalmente o doutor Walter.
A história é basicamente um super gorilão e seu fantoche humano super forte matando geral e destruindo a cida... pera.
Essa história me lembra muito, não, é idêntica à de Detective Comics 339! Tá rolando alguma coisa errada aí...
O Batman fica com força de gorila nas duas também!
Vamos pra próxima... deve ser apenas outra coincidência:
4- GO GO, O MÁGICO
Dessa vez, a dupla dinâmica enfrenta um ladrão que controla o tempo usando uma varin... PORRA, ESSE É O MAGO DO TEMPO, VILÃO DO FLASH!
ELE ATÉ ENFRENTOU O BATMAN ALGUMAS DETECTIVE COMICS DEPOIS
CONFIRAM NO REPLEI:
PORRA, JIRO KUWATA! VOCÊ É UMA FARSA! TÁ SÓ REFAZENDO AS HISTÓRIAS DOS OUTROS E MUDANDO O NOME DOS PERSONAGENS!
PELO MENOS VOCÊ CRIOU O LORDE DEATH MAN, QUE GANHOU EPISÓDIO NO DESENHO DOS BRAVOS E DESTEMIDOS E ATÉ FOI USADO PELO MORRIS...
AAAAAAH, SEU FILHO DUMA CHOCADEIRA!
MOURRA!
AAAAAAAAAAAAAAAH!
5- O HOMEM QUE DEIXOU DE SER HUMANO
QUERO MAIS SABER DESSA PORRA NÃO, FALOU PROCÊS!
Fiquem aí com o desenho animado do Bat-Mangá, essa bosta:
Hasta luego!
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