Pois é amigos, Watchmen é um papo que rende até hoje, quem diria. Acho que pelos mesmos fatores que levam projetos cinematográficos, gamers, literários e televisivos a serem recordados até hoje é a atemporalidade das obras clássicas. Conceitos que são inseridos em suas épocas, mas que até hoje são usados e cabíveis de discussão. Watchmen se insere na categoria de História em Quadrinhos que possui estas características.
Talvez esta análise já tenha sido feita nesta terra nefasta chamada internet, porém estou aqui pra colocar em jogo de novo esta ideia. Vale lembrar, que isso representa apenas um ponto de vista à ser interpretado.
Uma coisa que Alan Moore levou em consideração quando começou a escrever Watchmen de verdade (após o aval para tirar o personagens da Charlton Comics da história), era a desconstrução do universo de Super Heróis. Os ideais de liberdade, democracia e "American Way", foram pra escanteio a partir do momento que Moore quis inserir o conceito da realidade de: todo ser humano tem seu lado PODRE. Mocinhos, bandidos, donzelas, brucutus, não importa quem eles sejam, eles fazem merda não importa o tamanho.
E pode se considerar que todos os personagens de Watchmen fazem parte da desconstrução de um personagem específico. Mas nesse post, eu vou referenciar exclusivamente a Morcega Véia, Batman. O personagem que ganhou sua popularidade através dos seus 76 anos de histórias, e um dos preferidos da galera até hoje foi um grande alvo em Watchmen, que caracterizou 3 principais personagens da série...
CORUJA
O Coruja é um dos personagens mais tristes e deprimentes não por sua "desimportância" para com o roteiro mas sim por sua história dentro da série, e eu até me surpreenderia se ele tivesse algum fã. Mas o fato é que esse personagem esta mais baseado na personalidade de Bruce Wayne do que propriamente o Batman. Dan Dreiberg, o rapaz adulto que já atingiu os 40 é o cara que claramente passa pela crise de meia-idade onde o fator de correr ou não atras de bandidos é uma discussão amargurada dentro de sua própria consciência.
Herdando a riqueza do pai falecido e a alcunha de Coruja de Hollis Manson, ele é a desconstrução do Batman em sua raiz. Usando seu dinheiro para construir equipamentos, roupas e máquinas mirabolantes sem nunca mesmo usa-las. Sua vida de herói se baseava mais na invenção de ferramentas de combate ao crime, do que o próprio trabalho nas ruas. Some isso, a amargura de ter uma vida solitária, sem nenhum amor ao seu lado (até a volta da Jupiter), e sem muitos amigos, faz dele uma desconstrução perfeita do Bruce Wayne enquanto homem comum. Uma vida triste e maçante onde a ideia se entrepôs ao real desejo, em que ele vislumbrou tanto sua imaginação de ser super-herói que acabou apenas sucumbindo à ela.
Por isso, por diversos momentos é mostrado na história que os momentos em que ele conquista e força e vontade são quando ele está vestido de Coruja, deixando de ser um "brocha" covarde.
RORSCHACH
Este talvez o mais lembrado por alguns fãs. Rorschach era uma referência ao Batman investigador que faz de seu dever uma prioridade sobre-humana. Walter Kovacs sofreu traumas de infância irreversíveis causados pelo abandono do pai e a vida de prostituição da mãe. Cresceu vendo sempre o mundo à sua volta gritar o fracasso em sua cara e mostra-lo o quanto o mundo é sujo. Iniciou sua vida de vigilante como os outros personagens de Watchmen: pelo objetivo de levar a justiça.
Porém após atrocidades cometidas por bandidos em sua vida de combatente, ele largou totalmente sua vida civil e comum, e como o próprio diz em certa parte da série, se tornou apenas Rorschach. Sem expressão ou sentimento ele passou a levar a vida de vigilante como seu propósito de existência.
O interessante de Rorschach é seu ponto de vista do mundo, que após passar por todos os piores casos de criação, e de desenvolvimento de caráter, ele virou seus olhos totalmente a vida de herói. Mas sua obsessão por justiça fez com que ele esquecesse de sua própria personalidade, se tornando um completo maníaco. Suas roupas sempre sujas, descuido do corpo, sem parentes ou amigos, sem tempo para descansos ou folgas. Seria mais ou menos o que aconteceria ao Batman se este perdesse toda sua sanidade depois de anos de relacionamento (ui) com Coringa, por exemplo, com um foco inacreditável em defender as pessoas.
OZYMANDIAS
Ozymandias o rei dos reis. O personagem mais importante da trama, apontado como um dos maiores vilões de histórias quadrinhos de todos os tempos por quase todo nerd, também é uma referência ao Batman/Bruce Wayne.
Adrian Veidt, nasceu de uma família rica, mas isso não fez com que ele se acomodasse (fica o recado aí, pros vagabundos), que ainda jovem rejeitou o dinheiro da família e resolveu bancar o mochileiro pelo mundo. Em suas viagens, ele aprendeu de tudo sobre tudo, adquiriu conhecimento e aperfeiçoou mente e corpo (que nem o Pantera Negra). Conheceu as tumbas dos faraós e tudo sobre a cultura deles (o que influenciou sua vida por completo). Quando voltou a civilização, percebeu as mudanças ruins da sociedade e decidiu por em prática todos os ensinamentos que teve em suas jornada, virando o Ozymandias.
Mas a principal semelhança entre Bat e Ozy é a FILANTROPIA.
Os dois personagens sempre quiseram ver um passo à frente de todos e criar seus planos de fuga e solução para qualquer eventualidade. Bruce a Adrian sempre contaram com suas contrapartes civis para mudar o rumo da história do planeta/cidade. Dois ricos que com a ajuda de dinheiro, vasta inteligencia e ligeira futilidade, que desejam manter as coisas como eles querem.
Creio que a leitura de Batman em Ozymandias seja totalmente o oposto de Batman em Coruja. Aqui temos um rico bem sucedido e com sua grandeza respeitável que age ao invés de projetar suas maquinações. Em outras palavras, Adrian é o Batman que deu certo dentro de Watchmen hehehehe.
Tudo que eu disse aqui cabe a interpretação de cada um, assim como há quem ache que os personagens que eu citei são referências a outros personagens; quem ache que são só referências aos personagens da Charlton Comics; quem ache que nem passou pela cabeça do Alan Moore as coisas que eu disse; enfim isso dá muito pano pra manga ainda.
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